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Gestores apostam em fundos para o novo cenário de juro baixo

Fonte: Valor Econômico
Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

O cenário de juro baixo, comemorado por boa parte dos agentes econômicos, tem incomodado o investidor de longo prazo. Os produtos de previdência, que historicamente ficavam estacionados em títulos do Tesouro atrelados à inflação, e que pagavam prêmios de 7% ao ano, estão tendo que se mexer.

Com a trajetória de queda contínua da taxa Selic, hoje em 8,25% ao ano, a remuneração desses papéis no curto prazo tem declinado junto e provocado insatisfação. Tanto que, apesar da alta concentração da indústria em ativos da renda fixa - mais de 90% -, de janeiro a agosto deste ano já foi possível observar o início de um movimento de migração entre os fundos.

Do total de R$ 25,7 bilhões de captação líquida registrada no período nos planos de previdência, 40% foram para os fundos multimercado, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Este percentual não chegava a 20% nos oito primeiros meses de 2016.


O número é relativamente pequeno quando comparado à indústria como um todo, que ultrapassou a marca dos R$ 700 bilhões em julho, mas já indica uma tendência. "Em 2012, isso também ocorreu. As pessoas começaram a rever o seu apetite a risco. Uma coisa é correr risco quando você lucra 1% ao mês, outra é quando a taxa de juros começa a cair e a rentabilidade do fundo também", analisa Edson Franco, presidente da FenaPrevi e da Zurich no Brasil.

Franco se refere ao período em que a taxa básica de juro foi a 7,25% ao ano, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. "Aí surge naturalmente a tendência a correr mais risco e aparecem produtos mais diversificados."

De olho nesse movimento, seguradoras e bancos correm para lançar produtos mais agressivos dentro e fora da renda fixa. Outro movimento é a adoção da gestão ativa desses fundos, com análises e intervenções periódicas em sua composição sempre que o cenário exigir. Nesta direção, a Brasilprev anunciou quatro novos fundos no final de setembro. "Como o brasileiro é mais conservador, achamos legal lançar nova família de produtos na própria renda fixa e no multimercado para implementar opções para o investidor com alocação mais dinâmica", diz o presidente, Paulo Fontoura Valle.

Na renda fixa, criaram dois produtos, o Fix Estratégia 2025 e Fix Estratégia 2035, composto por títulos públicos de todos os prazos e características, títulos privados e permite alocar até 10% em ativos no exterior. Já na categoria multimercado, o foco do Dinâmico e do Multiestratégia é buscar resultados com ativos de renda fixa de curto, médio e longo prazo (índice de preços e prefixados), renda variável, investimento no exterior e em moedas.

Estudo feito pela empresa mostra que os clientes de alta renda e do segmento private são os primeiros a puxar este movimento. "Na indústria como um todo houve migração de R$ 10 bilhões do começo do ano até agora, que saíram da renda fixa de curto prazo e foram para renda fixa de longo prazo, ou para multimercado e renda variável. E na Brasilprev, de R$ 1 bilhão", indica Valle.

Com a redução da taxa de juros, não só na previdência, mas boa parte da indústria de fundos perdeu rentabilidade, especialmente produtos de menor volatilidade. As NTN-Bs mais curtas, antigas vedetes dessa indústria, têm prêmios que claramente estão diminuindo, ainda mais se a gestão do fundo for passiva. "Para capturar atratividade nesses títulos, a gestão tem que ser ativa e dentro de planos com prazo mais longos como as NTN-B 2035, 2045 e 2050, que pagam bons prêmios, porém com volatilidade longa" diz Claudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do Itaú Unibanco.

Para atender a mudança de cenário, o banco lançou oito fundos nos últimos seis meses. Na renda fixa, foram três que buscam rentabilidade acima do CDI, descontadas as taxas, e possuem gestão ativa. Na renda variável, lançou dois produtos balanceados, V 20 e V 40 smart ações, que replicam o índice S&P Bovespa e investem em ações de baixa volatilidade e que performam melhor do que o Ibovespa.

Os produtos, por enquanto, atendem ao perfil de clientes de média e alta renda, além do private. Para os clientes private e personalitè, alguns fundos multimercados foram criados em parceria com outros gestores, como o Verde Asset Management. "Começa a ter multimercado que de fato mexe com diferentes ativos, com possibilidade de investir no exterior - até 10% - e outras alternativas. A volatilidade desses produtos aumenta bastante, e podem ir de 3% a 11%", explica Sanches.

O Bradesco Vida e Previdência também vê atratividade nos títulos do governo mais longos, em especial na LTN 2022 e 2023 e na NTN-F com chances de ganho nominal entre 9,7% 10%. Com relação ao crédito privado, diz que os bancos estão com bastante liquidez, mas faltam projetos que incentivem a compra desses papéis e orienta migração pontual e gradual para ativos de risco. "A gente prefere abordagem multimercado que é mais dinâmico do que ficar alocado só em Bolsa e permite ir calibrando a exposição a diferentes cenários de risco", defende Vinicius Cruz, diretor de investimentos do grupo Bradesco Seguros, que irá ampliar a oferta de produtos antes exclusivos do private para o público de média e alta renda do banco.

Um deles é um fundo multimercado, com 49% em renda variável, mas também com NTN-B, prefixada, com diferentes rendimentos para apostar em inclinação de curva. O fundo pode trabalhar com moedas de outros países. As ações serão independentes de índices, como small caps com dividendos.

Segundo Felipe Bottino, diretor de produtos de previdência da Icatu Seguros, nos últimos dois meses, a seguradora lançou três fundos em parceria com gestores como Kondor, CSHG Gauss e Absolute. E lançará outro nas próximas semanas em parceria com o Opportunity. O primeiro é fundo multimercados que trabalham fortemente com renda variável.

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