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Inversão de rota

Fonte: Valor Econômico

O mercado segurador confia na reversão este ano da curva declinante de crescimento traçada desde 2015, quando a economia entrou em recessão. Estudo da Siscorp, consultoria especializada na área de seguros, estima para o acumulado de 2018 um avanço do faturamento total da ordem de 9% - alta que já seria capaz de inflexionar a curva descendente dos últimos três anos. Em 2017, a arrecadação de prêmios cresceu 7,6%. Esta expansão de um dígito demarcou o fundo do poço. Mesmo nos piores anos da recessão - 2015 e 2016 - a arrecadação cresceu acima de 10%: 11,9% no primeiro e 10,8% no segundo. Apesar do otimismo dos dirigentes, ainda não foi no primeiro quadrimestre que se viu a inversão da rota.

Nos quatro primeiros meses, o setor avançou apenas 3%, com arrecadação total de R$ 79,7 bilhões, ante R$ 77,2 bilhões em igual período de 2017. Os efeitos da recessão prolongada e do declínio da taxa Selic, que remunera cerca de 90% dos ativos financeiros de R$ 920,6 bilhões das seguradoras, não inibiram, porém, o lucro líquido do setor. Ele evoluiu dos R$ 4,4 bilhões auferidos entre janeiro e abril do ano passado para R$ 4,55 bilhões em igual período deste ano. E a rentabilidade do patrimônio líquido agregado alcançou 20,8%, um resultado considerado excelente considerando-se a conjuntura econômica ainda adversa.

O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), Márcio Coriolano, destaca a recuperação registrada nos seguros de automóveis, pessoas e ramos patrimoniais, todos ostentando avanços de dois dígitos no acumulado do ano. Terceira maior carteira da indústria de seguros, com prêmios de R$ 11,4 bilhões, o seguro de automóveis cresceu 10,6%. E os patrimoniais, 10,2%. "O resultado mostra o fôlego que a queda de preços e a estabilidade de tarifas públicas proporcionaram à renda das famílias", diz Coriolano.

No segmento de coberturas às pessoas, a expansão aproximou-se de 12%, com destaque para o seguro prestamista, cujo crescimento, de 21,5% no quadrimestre, reflete a expansão do crédito. A expectativa do presidente da BB e Mapfre, Fernando Barbosa, é de pelo menos manter este ano a taxa de expansão de 2017.

A seguradora, fruto da associação válida até 2031 entre a BB Securidade e a espanhola Mapfre, concluiu esta semana uma reorganização societária, no valor de R$ 2,4 bilhões, por meio da qual a Mapfre passa a assumir o controle da divisão de ramos empresariais e automóveis.

A maior carteira do setor de seguros, a de VGBL, com receitas de R$ 32 bilhões, ainda teve desempenho negativo de 1,7% nos primeiros meses do ano. É a persistência da captação líquida negativa dos planos de previdência privada que vem puxando para baixo os dados gerais do setor de seguros. Pelo critério de média móvel em doze meses, a arrecadação dos VGBL caiu 1,8% em janeiro. A negatividade subiu para 3,6% em fevereiro e, no mês seguinte, para 4,9%. Em abril, a involução cedeu para 2,7%.

Para o diretor de investimentos da Bradesco Seguros, Vinicius Cruz, esse resultado não decorre da decepção do investidor com os ganhos nominais baixos após encerrado o ciclo de redução da Selic. "As carteiras são flexíveis e ágeis. E continuam proporcionando excelentes rendimentos. Os motivos ainda não estão nítidos, mas se prendem à conjuntura de incertezas tanto política quanto econômica", diz.

O ambiente de indefinição política e eleitoral no país, contaminado adicionalmente pela alta do dólar e pela ausência de solução do déficit fiscal, explica a reversão das expectativas, agora pessimistas, constatada por pesquisa feita pela Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) em maio. O ICSS, índice que mede a confiança desses profissionais, voltou a ficar abaixo de 100 pontos, indicando o sentimento de que a situação daqui a seis meses estará pior que a atual.

Os sinais de retomada do mercado segurador são mais notáveis nos ramos empresariais, observa Luciano Calheiros, CEO da Swiss Re. Enquanto a arrecadação total de prêmios, excluindo-se o segmento de saúde suplementar, cresceu 2,74% (o IPCA acumulou alta de 0,92% no período) de janeiro a abril - de R$ 65,7 bilhões no primeiro quadrimestre de 2017 para R$ 67,5 bilhões agora - o faturamento obtido nos seguros empresariais avançou 6,3%.

Destacou-se o ramo de transporte de carga, cuja expansão foi de 14%. O transporte é um termômetro do ritmo da produção industrial. Tal performance foi prejudicada pela paralisação dos caminhoneiros em maio. "Apesar do bom desempenho geral registrado no primeiro quadrimestre do ano será prematuro projetar-se um comportamento para o restante de 2018", diz o CEO da Swiss Re.

Na visão do sócio da PwC responsável pela área de seguros, Carlos Matta, os investimentos produtivos só serão feitos depois de conhecido o próximo presidente da República e sua política econômica. Sobretudo a área de infraestrutura está sendo afetada pelo que Matta chama de "insegurança política". Até lá, as seguradoras persistirão em seus objetivos e curto e médio prazos.

Para o presidente da SulAmérica Seguros, Gabriel Portella, tempos difíceis precisam ser enfrentados com mudanças, aumento da sintonia com as necessidades reais dos clientes, redução de custos e melhoria de processos. "Anos desafiadores requerem respostas inovadoras, em conexão com os clientes."

O presidente da Icatu Seguros, Luciano Snel, nota a propensão das famílias de dar prioridade ao planejamento de longo prazo em detrimento do consumo. Ao estabelecer hierarquias, persistem fiéis aos planos de previdência complementar e ao seguro de vida. "As pessoas sacrificam o que é visto como não essencial para garantir a tranquilidade de longo prazo. Há, por exemplo, um forte interesse em se adquirir coberturas contra doença graves", diz Snel. O potencial de desenvolvimento desses dois ramos é enorme. Hoje, o volume contratado em seguro de vida alcança 0,5% do PIB, quando o aceitável, no entender do executivo, seriam 5%.


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