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Nova previdência traz oportunidade, diz presidente da Brasilprev

Fonte: Valor Econômico 

SÃO PAULO  -  Walter Malieni está de malas prontas. O novo presidente da Brasilprev desembarca nesta quarta-feira no Chile para conhecer in loco a atuação da Principal no país que adotou o sistema de capitalização na Previdência pública há quase 40 anos. A gigante americana, com mais de US$ 625 bilhões em ativos, é sócia da BB Seguros, braço de seguros, capitalização e previdência privada do Banco do Brasil (BB), na Brasilprev. Aos 49 anos, ele assume o comando da maior entidade de previdência complementar brasileira, com mais de R$ 250 bilhões sob gestão e quase 2 milhões de clientes.

O executivo, que fez carreira no BB e também passou pela presidência do conselho deliberativo da Previ, fundo de pensão dos funcionários do banco, chega num momento em que o mercado brasileiro deve passar por uma profunda transformação com a reforma da Previdência. Independentemente do desenho final do projeto, Malieni vê uma grande oportunidade para as instituições que ofertam planos complementares, os conhecidos PGBL e VGBL. Não só pelo pilar da capitalização em si, como também pelo prazo mais longo de contribuição necessário para se ter acesso aos benefícios da previdência pública.

“A regra de transição por si só já gera a necessidade de cada um refletir que previdência vai ter”, diz. “Para cada regra consigo ver oportunidades para o setor em relação ao tempo a mais de contribuição e de trabalho. Empregados e empregadores vão ter que construir estratégias de capitalização”, afirma.

O executivo vê com bons olhos a alternativa da capitalização no sistema público de aposentadorias e acha que a criação de contas individuais trará mais transparência para o trabalhador, que vai poder acompanhar o crescimento do bolo de recursos para a sua aposentadoria. Pode ser um instrumento que favoreça também o que ele chama de educação previdenciária.

“Independentemente de ser compulsório ou facultativo, o trabalhador vai ter a capacidade de escolher o melhor gestor para o seu projeto de vida, pensando na acumulação e na desacumulação”, afirma. “Acho que o setor vai ter que se adaptar para ter solução para todo tipo de consumidor.”

Nesse processo, Malieni acha que a Brasilprev pode ser protagonista pela força da marca e participação de mercado, conciliando as estratégias digitais com o canal de distribuição físico. “A gente tem muita capacidade instalada para isso, tem 30% do mercado, 2 milhões de clientes e pode unir a competência dos dois sócios: um é um distribuidor bem-sucedido [via agências do BB] e o outro pode abreviar a entrega de soluções previdenciárias. Cabe ao ‘management’ ativar essas potencialidades”, afirma.

Na sua passagem pelo Chile, Malieni pretende estudar como as estratégias de abordagem digital da Principal e a padronização dos planos podem ganhar escala no Brasil. Lá, o grupo americano é o líder em fundos mútuos de previdência, com US$ 49 bilhões sob gestão, incluindo a atuação como administrador de fundos de pensão. “Quero entender a formação do sistema de capitalização gerido pelo setor privado. Nossa posição no Chile pode ajudar muito, sem falar a nos mercados americano e asiático, ou nos 18 países onde [a Principal] tem presença.”

No mercado chileno, os trabalhadores da ativa têm que destinar 10% da renda disponível para uma conta de capitalização individual, acumulando recursos até os 65 anos no caso dos homens e 60 para as mulheres. O modelo, quando criado em 1980, foi para a capitalização radical, a previdência completamente privatizada e as contribuições subdimensionadas a ponto de gerar reservas insuficientes. Nos últimos 15 anos, o governo chileno fez uma série de reformas para encorajar os trabalhadores a abrirem contas suplementares (APV) em paralelo aos AFP, os fundos que administram o sistema compulsório de contas pessoais.

Conforme descreve o Global Aging Institute, no estudo “Previdência Facultativa nos Mercados Emergentes”, feito sob encomenda da Principal, a revisão mais importante foi feita em 2008, que introduziu uma forma de poupança conhecida como a “APV da classe média”, que prevê contribuições de contrapartida do governo ao mesmo tempo que estabeleceu as bases para um sistema coletivo, inspirado no sistema 401(k) dos Estados Unidos. Ainda assim, as poupanças facultativas de aposentadoria por lá permanecem em grande parte limitadas às faixas de renda mais elevadas.

A proposta enviada pelo governo brasileiro ao Congresso prevê a alternativa da capitalização em regime de contribuição definida, mas o detalhamento ficará para uma lei complementar. Pelas premissas, o trabalhador vai poder escolher livremente a entidade de previdência que vai contratar e a modalidade de gestão das reservas. Também será possível fazer a portabilidade dos investimentos.

Em termos de oferta, Malieni diz que o Brasilprev Fácil, criado no segundo semestre de 2018, pode servir de modelo para outros produtos a fim de capturar o público que hoje está fora do radar da previdência complementar. O plano nasceu sem taxa de carregamento, permite contribuições mensais a partir de R$ 100 e, na partida, as reservas são construídas num fundo de renda fixa de volatilidade média que pode ter crédito privado. A taxa de administração é de 2% ao ano. A oferta padrão tem sido feita em cima da modalidade Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), que não permite dedução anual na declaração de imposto.

Nos primeiros meses de comercialização, 66 mil pessoas contrataram esse pacote, com um tíquete médio mensal de R$ 336, justamente na faixa etária que a Brasilprev pretendia alcançar: 60% do participantes têm entre 18 e 39 anos.

É para esse tipo de simplificação que o executivo espera que o mercado local de previdência complementar avance. Como exemplo, ele cita o segmento de crédito bancário, em que foi instituído o custo efetivo total (CET) para que o consumidor pudesse comparar os preços entre as diferentes ofertas do setor bancário. “Na venda inicial será preciso ter o maior nível de ‘disclosure’ possível daquilo que se oferece para o cliente, o tipo de ativo, e também construir uma plataforma que tenha uma estratégia recorrente de relacionamento e prestação de serviço.”

Outra modalidade que pode ser repensada, diz, são os planos conhecidos como “ciclo de vida”, em que a modulação do risco é feita de acordo com a faixa etária do participante. Na fase inicial de contribuição, por exemplo, pode começar com uma maior alocação em bolsa e ir migrando para a renda fixa ao se aproximar do período de pagamento de benefícios.

O surgimento de gestoras e seguradoras digitais (“insurtech”) trazem novos nomes para o jogo da competição, e os grupos financeiros estabelecidos vão ter que lidar com esse universo, reconhece Malieni. A própria BB Seguridade junto com a Principal já têm a sua startup no segmento. Em setembro, criaram a Ciclic, plataforma digital para produtos de previdência, administrada pela BB DTVM e pela Brasilprev.

“Por mais que se tenha uma companhia 100% digital ou não, você vai alocar a sua reserva onde tem mais credibilidade e sente mais confiança. Aí o canal e a marca BB podem fazer uma diferença absurda”, afirma.

O ambiente macroeconômico, com os juros em níveis historicamente baixos, também permite uma maior disponibilidade de renda e favorece a formação de poupança de médio e longo prazo, acrescenta o executivo da Brasilprev.

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