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Futuro promissor

Fonte: Jornal do Commercio - RJ

ANNA BEATRIZ THIEME

Diante do crescente nível de expectativa de vida dos brasileiros, a maior preocupação em assegurar qualidade de vida durante a aposentadoria ajuda a fomentar cada vez mais um mercado já em fase de franca expansão no País: o da previdência complementar. Dividida em dois tipos, aberta e fechada, a previdência privada já reúne ativos de R$ 700 bilhões, valor que alcança 25% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Especialistas são unânimes ao afirmar que as perspectivas para o setor nos próximos anos tendem a ser ainda mais favoráveis, na esteira da evolução do nível de emprego formal e do ingresso de mais pessoas na classe média. Eles avaliam ainda que a atual crise mundial não foi e nem será no curto ou médio prazo suficiente para inibir o crescimento deste mercado, cujas aplicações são consideradas umas das mais seguras atualmente no País.

O sistema de previdência complementar do Brasil é muito sólido, considerado um dos melhores do mundo. Mesmo em tempos de crise, os investimentos desse sistema, altamente seguros, dão a expectativa de que conseguiremos avançar nas classes A e B e penetrar rapidamente na C", afirma o vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), Renato Russo. Ele afirma que a crise ainda não alcançou o setor da previdência complementar no Brasil e explica que talvez o único efeito que ela poderá representar será a redução no volume dos recursos que entraria no sistema, provocando, dessa forma, uma desaceleração na intensidade de crescimento do setor. "Não vejo, no entanto, a hipótese da crise significar reversão nesse quadro de crescimento", enfatiza. Para entender, entretanto, o funcionamento da previdência privada, é preciso compreender os diferentes tipos, que se dividem em dois grupos - previdência aberta e previdência fechada. A aberta, como o nome sugere, está disponível para qualquer pessoa que queira investir em seu próprio futuro. Ela é oferecida como produto financeiro pelos bancos e pelas seguradoras. Nela, o cliente faz aportes mensais para, no futuro, ter a opção de resgatar o valor poupado ou receber um "salário" garantido pela instituição financeira durante sua aposentadoria. Já a previdência fechada, que são os fundos de pensão, funcionam com a mesma lógica de acumulação, mas os planos são restritos a grupos específicos de pessoas, como funcionários de uma empresa ou integrantes de um sindicato, por exemplo.

Russo destaca que a previdência aberta tem evoluído mais que a fechada no País, atingindo ano a ano taxas de crescimento na casa de dois dígitos. Tal avanço, segundo ele, é explicado pelo fato de a primeira ser um produto que atinge à população como um todo, em detrimento da previdência fechada, que tem um público mais limitado, que só pode ser representado por um número pequeno de empresas.

Os últimos dados divulgados pela Fenaprevi, entidade que reúne 64 seguradoras e 15 entidades abertas de previdência complementar no Brasil, mostram que a previdência aberta vai muito bem. A expansão, segundo a entidade, ocorreu, sobretudo, na última década, com taxa média de crescimento de 25,51% ao ano. O número de planos, por exemplo, saltou de 3,4 milhões em 1999 para 12,11 milhões em 2010. Ainda de acordo com a Fenaprevi, somente no acumulado de janeiro a setembro deste ano, o volume de aportes somou R$ 37,3 bilhões, o que representa alta de 20,57% na comparação com igual período de 2010.

Com o desempenho da previdência complementar aberta no acumulado do ano, a carteira de investimentos do sistema alcançou R$ 255 bilhões no período, resultado que equivale a 7% do PIB brasileiro. Ainda segundo Russo, previsões dão conta de que este número só tende a crescer nos próximos anos, chegando a alcançar, ainda ao fim desta década, a casa de R$ 1 trilhão.

EXPANSÃO. Como fator motivador deste crescimento, o vice-presidente da Fenaprevi destaca, entre outros, o novo contingente de pessoas que migrou para a chamada classe C. Embora este seja um movimento recente e os novos entrantes não tenham sido ainda atingidos por este mercado, Russo avalia ser um grande público potencial e, portanto, um dos grandes responsáveis pela disseminação dos produtos de previdência entre a população brasileira.

Embora seja no segmento aberto que o sistema de previdência complementar venha avançando a passos mais largos, são os fundos de pensão, restritos à grande parte da população , que concentram o maior montante de recursos a ser aplicado em investimentos. Sozinhos, eles movimentam praticamente o dobro da previdência aberta, ou cerca R$ 545 bilhões (15% do PIB), segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), relativos a março deste ano.

Os planos de previdência fechada são também os principais investidores do País, tendo em carteira desde aportes em imóveis e em renda fixa até em participações de empresas e projetos de infraestrutura. No Brasil, o maior fundo de pensão é o dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, que conta com patrimônio administrado de cerca de R$ 155 bilhões. Em seguida, estão a Petros, dos funcionários da Petrobras, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal, com patrimônio de R$ 53 bilhões e R$ 45 bilhões, respectivamente.

Para o presidente, da Abrapp, José de Souza Mendonça, considerando um "crescimento vegetativo", ou seja, o simples crescimento dos fundos já existentes no País, a previdência complementar fechada poderá equivaler, em 10 anos, a cerca de 40% do PIB nacional. Os números ainda serão pequenos, se comparados àqueles registrados em outros países. Nos EUA, por exemplo, eles atualmente já equivalem a mais de 72% do PIB norte-americano, enquanto na Holanda chegam a 114% do PIB do país.

Além disso, Mendonça considera a falta de preocupação do brasileiro com o futuro e a necessidade de poupar como outro grande entrave para uma maior prosperidade dos fundos no Brasil. Ele lembra ainda que, num universo de cerca de 92 milhões de pessoas economicamente ativas, menos de 3 milhões de trabalhadores contribuem para algum tipo de fundo de pensão. Isso por si só já dá a dimensão do quanto o sistema poderá crescer no País, segundo o executivo.

CONTINGENTE. "Do 92 milhões de pessoas economicamente ativas, há aqueles que ganham até 10 salários mínimos, que poderiam ser atendidos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) da forma como ele existe hoje. Acredito, porém, que, desse total, de 10 milhões a 20 milhões de pessoas poderiam estar inseridas no sistema de previdência complementar", afirma Mendonça. "Afinal, quanto mais acima do teto do INSS uma pessoa estiver, maior a necessidade da previdência privada para o futuro, caso esta pessoa queira manter o mesmo padrão de consumo que tinha durante a vida laboral", acrescenta.

Essa realidade é bem representada pela última pesquisa feita pela Abrapp, de 2008. Cerca de 84% das pessoas entrevistadas não possuíam qualquer tipo de investimento, por não contabilizarem sobras de dinheiro ao fim do mês. Ainda segundo o estudo, 31% declararam poupar regularmente para a aposentadoria, enquanto apenas 13% possuíam algum tipo de plano.

Os especialistas acreditam que a percepção acerca da necessidade da complementação da renda vem aumentando entre os brasileiros nos últimos anos, motivada, em grande parte, pela percepção do esgotamento do sistema público de previdência. No ano passado, por exemplo, dados do Ministério da Previdência mostram que o saldo entre arrecadação e pagamento de benefícios fechou negativo em R$ 44,3 bilhões, déficit que se repete ano após ano.

Para os especialistas, o melhor momento para adquirir um plano de previdência complementar é assim que uma pessoa entra no mercado, geralmente dos 20 anos aos 30 anos de idade. "Quanto antes uma pessoa começar seu plano, menos de seu salário precisará dispor para este tipo investimento", afirma Russo, da Fenaprevi. "Acredito que até 10% dele já sejam uma parcela razoável", conclui.

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