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Pequenas e médias dão impulso a planos empresariais

Fonte: Valor Econômico

A estabilidade financeira, o crescimento do poder econômico das classes C e D e a situação de quase pleno emprego vivenciada pelos brasileiros nos últimos anos têm impactado na estratégia das empresas preocupadas em manter a competitividade no cenário interno. A consciência de que é necessário fazer algo para reter talentos estimulou as pequenas e médias a montarem planos próprios de previdência, criando um novo mercado para as administradoras e provocando mudanças para atender a este novo público.

Em uma década, o cenário se alterou de forma significativa. Em 2000, as entidades fechadas, formadas por fundos próprios e fundos multipatrocinados, administravam 81% dos planos de aposentadoria empresariais. Ao fim de 2009, as entidades abertas passaram a corresponder a 37% do total, com as fechadas caindo para 63%, aponta pesquisa de Planos de Benefícios da Towers Watson, realizada com 236 empresas.

Esta mudança de perfil, de acordo com o presidente do Bradesco Vida e Previdência, Lucio Flavio de Oliveira, está ancorada no desenvolvimento da consciência por parte dos donos de pequenas e médias da importância dos planos para levar adiante seus negócios.

"Com a economia mais auspiciosa e aumento de renda e emprego formal, esse segmento do empresariado está ganhando dimensão mais sólida", explica. A estabilidade, argumenta Oliveira, está permitindo visão de longo prazo, o que em termos de benefícios para funcionários se traduz em plano de previdência complementar. Para justificar a teoria, o executivo aponta para os números do próprio Bradesco Vida e Previdência.

"Em 2010 já éramos líderes do mercado de previdência privada, e neste ano ganhamos quase 10 pontos percentuais. Foram as pequenas e médias que facilitaram este processo." Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostram que, até setembro, a empresa acumulou 56,8% do mercado em receita, contra 47% registrados ao final do ano passado. Por terem poucos funcionários e capital reduzido, as pequenas e médias optam por planos administrados por entidades abertas, como bancos, ficando de fora da formação de fundos de previdência ou buscando entrada em fundos multipatrocinados.

O crescimento dos planos abertos está também ligado à chegada de multinacionais ao País. De acordo com o consultor sênior de previdência privada da Towers Watson Evandro Luís de Oliveira, a maior parte destas empresas é de serviço, não demandando grande quantidade de mão-de-obra e, portanto, menos propensas a criar fundos de previdência. "Ao contrário das que entraram na década de 80, que ocasionaram o boom no crescimento de planos fechados naquele período." Evandro afirma que são raras hoje as empresas procurando montar fundos de pensão próprios, preferindo optar por planos administrados por entidades abertas ou fundos multipatrocinados. "A maioria opta pelo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre)." De acordo com a pesquisa da Towers Watson, dentro do segmento de entidades abertas, 87% são PGBL, contra 8% do tipo tradicional e 5% do tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL).

Segundo o superintendente comercial da Brasilprev, Mauro Guagdanoli, os planos empresariais de entidade aberta representam cerca de 12% a 15% do mercado de previdência total. "Ao longo dos últimos cinco anos, o ritmo de crescimento tem sido de 20% ao ano, mostrando o grande apetite das empresas pelos produtos oferecidos", diz.

No movimento oposto vem a busca de associações de classe por planos de previdência fechados. Segundo especialistas, organizações estão se dando conta de que é possível pagar taxas de manutenção menores e ter mais controle sobre seus investimentos estruturando fundos de pensão - saindo assim de fundos multipatrocinados ou de planos abertos. "Os fundos costumam ser pequenos, de atuação regional", diz a consultora sênior de previdência da Mercer Maria Cláudia Fernandes .

"Estes planos associativos são cada vez mais presentes para profissionais liberais que querem se aproveitar de benefícios tributários e fiscais", afirma Evandro. O especialista explica que estas associações também buscam oferecer PGBLs por intermédio de bancos. Segundo ele, a utilização de associações permite aos grupos ter maior poder de negociação, e reduzir os custos de administração.

O desenvolvimento do mercado também está estimulando o setor de resseguros a buscar novos produtos. O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re) estuda comercializar resseguros sobre tábua de mortalidade, afirma a gerente executiva de diretoria comercial, Alessandra Monteiro.

O produto serviria para amortizar as perdas das seguradoras no caso da expectativa de vida prevista do beneficiário ultrapassar o esperado. "Hoje as pessoas estão vivendo muito mais, e as empresas estão errando nas estimativas, então os produtos de resseguro cobrem o tempo extra de vida, evitando problemas de fluxo de caixa", explica Alessandra. O modelo será parecido com o utilizado no exterior, onde este tipo de resseguro já é comum.

A executiva afirma que o IRB-Brasil Re está montando grupos de estudo para avaliar quais soluções poderiam ou não ser trazidas para o País. Estaria em análise um produto para compensar as empresas no caso de rendimentos abaixo da meta pelos planos. "Não acho que o mercado brasileiro está maduro o bastante para isso", ressalva Alessandra.

De acordo com ela, o mercado, hoje, consome basicamente resseguros para o caso de invalidez ou no caso de tragédias. "Depois que tivemos grandes acidentes aéreos, como os da Gol, da Air France e da TAM, as seguradoras viram que era importante ter esse produto, pois não estavam preparadas para dar indenização para tantas pessoas de uma só vez", exemplifica. Segundo Alessandra, o produto é especialmente necessário para os grandes bancos que oferecem planos corporativos.

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