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O naufrágio do Costa Concórdia

Fonte: O Estado de São Paulo

Fosse para homenagear um amigo, fosse pelo motivo que fosse, não tinha cabimento o capitão tirar um navio de 290 metros e mais de 100 mil toneladas de seu curso

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Desde que o mundo é mundo a incompetência e a irresponsabilidade cobram um alto preço do ser humano. Que o digamos mais de 50milmortospelotrânsito brasileiro todos os anos. Ou que o diga o recente naufrágio do transatlântico Costa Concórdia nas águas calmas e mais do que mapeadas do Mediterrâneo.

Sabe-se lá por que razões o capitão, que após o acidente se portou muito mal, para dizer o mínimo, decidiu sair da rota e se aproximar perigosamente de uma ilha.

Fosse para homenagear um amigo, fosse pelo motivo que fosse, não tinha cabimento tirar um navio de 290 metros de comprimento e mais de 100 mil toneladas de deslocamento de seu curso.

Poucos mares são tão singrados e mapeados quanto o Mediterrâneo.

Desde Ulisses seus principais perigos são conhecidos, tanto que a Odisseia pode ser considerada o mais antigo "roteiro" náutico que chegou até nós.

Nela os principais pontos deste mar estão descritos em versos e coincidem com as medições super precisas dos dias de hoje. Daí para frente não houve povo ou civilização mediterrânea que não cortasse suas águas em todos os sentidos, em todas as épocas do ano, criando uma extensa rede comercial e militar, que protagonizou alguns dos principais episódios da história da civilização ocidental.

Salamina, as Guerras Púnicas, Lepanto marcam momentos decisivos da evolução humana e da ascensão e queda das civilizações que se desenvolveram às margens do "Mar e nostrum" romano.

E, no entanto, mesmo assim, com séculos de prática e toda a tecnologia embarcada nos modernos navios de cruzeiro, um capitão, por pura irresponsabilidade, causa um acidente que poderia ter proporções catastróficas, não fosse a sorte ficar do lado das mais de 4 mil pessoas abordo do Costa Concórdia.

Se o transatlântico afundasse poucos metros antes, o leito do mar estaria a mais de 90 metros de profundidade.

Dadas as descrições do salvamento, tivesse o naufrágio acontecido nesse ponto, como afundamento completo do navio, seria praticamente impossível retirar os passageiros e tripulantes e, ao invés de poucos mortos, ante o número total de pessoas, haveria uma tragédia muito maior do que o naufrágio do Titanic.

Mas, se a sorte esteve ao lado dos passageiros, ainda que não acontecendo uma tragédia, os prejuízos decorrentes do ato fora de contexto do capitão do Costa Concórdia atingirão algumas centenas de milhões de euros ou algo próximo a R$ 1 bilhão.

Apenas o navio custou algo próximo de € 500 milhões. E os danos morais, calculados por baixo, mas multiplicados por perto de 4mil pessoas, dificilmente ficarão em menos de € 50 milhões.

Como, além deles, há ainda a perda da bagagem, pertences pessoais, joias e documentos dessas 4 mil pessoas,fica fácil se chegar no número acima.

Ou seja, numa conta de padaria, fica evidente o prejuízo estratosférico gerado por um único ato de um irresponsável com poder demando no caixa de uma grande companhia.

Existe seguro para isto e não me parece razoável imaginar que uma das mais tradicionais empresas de navegação de passageiros do mundo corra o risco de operar seus navios sem a ampla proteção de um moderno programa de seguros.

Perder € 500 milhões numa única tacada, representada pelo naufrágio de um super transatlântico com mais de 4 mil pessoas abordo, desestabiliza o caixa de qualquer companhia.

Mas quando a perda do navio pode ser o menor dos prejuízos, não é crível que uma organização com a tradição e o tamanho da Linha Costa corra o risco de não ter apólices altamente sofisticadas protegendo suas operações. Apólices que garantam seu patrimônio, os lucros cessantes, mas, principalmente, os danos a terceiros.

Se o navio naufragasse numa zona em que não ficasse adernado e apenas semissubmerso, mas afundasse completamente, o número de mortos ultrapassaria facilmente a marca de mais de mil mortos do Titanic.

Em outras palavras, as empresas que atuam em seguros e resseguros marítimos começam 2012 com um grande sinistro.

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