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Quem sofre mais com as inundações no Brasil?

Fonte: Sonho Seguro - Denise Bueno

Quem sofre mais com as inundações no Brasil, governo, população ou seguradoras? Até que ponto é importante investir em mitigar riscos em países em desenvolvimento e em regiões com pouca importância econômica? Essa questão foi o ponto alto da palestra Catástrofes Climáticas no Mundo, proferida por Alfredo Gomez, vice-presidente da Swiss Re, mediada por Leonardo Paixão, presidente do IRB Brasil Re, com debate a cargo de Rodrigo Botti, diretor de riscos da Terra Brasis, durante o 2º Encontro Internacional de Resseguro, que acontece no Rio de Janeiro.

As catástrofes naturais e os desastres causados pelo homem em 2012 causaram perdas econômicas de US$ 186 bilhões, com a perda de aproximadamente 14 mil vidas. Os eventos climáticos de grande escala nos EUA levaram o total de perdas seguradas do ano à marca de US$ 77 bilhões, que caracteriza o terceiro mais oneroso ano já registrado para o setor de seguros. Esse valor ainda é consideravelmente menor do que o valor de 2011, quando terremotos e inundações recorde na região da Ásia-Pacífico causaram perdas seguradas históricas, acima de US$ 126 bilhões, as maiores já registradas. “70% da Tailândia foi afetada com inundações em 2011. Já em 2012 houve uma mudança nas regiões afetadas, com 80% das perdas geradas por eventos ocorridos nos EUA”, frisou o especialista.

Na América Latina e no Caribe, catástrofes naturais e desastres causados pelo homem atingiram perdas de US$ 4 bilhões. O custo para o seguro foi de US$ 900 milhões. Os furacões também atingiram o Caribe, mas as perdas seguráveis foram menos significativas. A pergunta que se faz é quem realmente paga por estas perdas? Entre 1970 e 2012, a maior perda aconteceu em 2005, com o furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos. O verão mais quente nos Estados Unidos trouxe perdas enormes também para o setor agrícola, bem como para o Brasil. O número de catástrofes continua a aumentar. “O mercado está preparado para prevê-las e propor modelos?”, pergunta Gomez.

Um exercício de simulação apresentado no estudo Sigma mostra como uma elevação do nível do mar de 0,25 metro até 20502 praticamente dobrará a probabilidade de ocorrência de perdas por inundações extremas. Para o mercado, isso significa que um sinistro indenizável no valor de US$ 20 bilhões, hoje com ocorrência prevista para uma vez a cada 250 anos, passaria a ter ocorrência prevista para uma vez a cada 140 anos.

Rodrigo Botti, da Terra Brasis resseguradora, falou sobre as catástrofes que aconteceram em 2011 e 2012. Ele questiona se há realmente maior atenção aos “cold spots” ou foi algo passageiros? Gomez afirma que não basta acessar apenas os riscos que estão claros, mas o mais importante é olhar para perdas econômicas com as quais ninguém se importa, mas que são significativas. “No processo de transferir uma quantidade maior de riscos temos que investir em tecnologia para mitigar estes riscos”, diz.

Segundo levantamento da Terra Brasis, a exposição brasileira a inundações é diferente do resto do mundo. Enquanto as inundações representam 70% das indenizações pagas, em países europeus elas significam cerca de 30%. “Isso mostra que os modelos existentes precisam ser adaptados ao Brasil. Como vamos conseguir atrair e desenvolver tecnologia e modelos de riscos de inundação brasileira é o grande desafio”, argumentou Botti.

A questão é como trazer tecnologia e o primeiro passo é conhecer a fundo o risco e descobrir as possibilidades de cobertura para os impactos econômicos. Uma colaboração importante foi a parceria fechada pela CNSeg com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência e Tecnologia, para prover dados estatísticos sobre a incidência de chuvas para o setor de seguros. Isso tem despertado o apetite das resseguradoras e seguradoras pelos riscos das chuvas.

Para finalizar, os participantes do painel concluíram que há uma grande mudança no mundo e a indústria de seguros terá de se adaptar as conseqüências financeiras desses eventos. Na semana passada, por exemplo, duas horas causaram três polegadas de chuvas nas Ilhas Mauricio, na costa da África, inundando a capital. Onze pessoas morreram e milhares desapareceram. Ainda não se sabe a perda, mas sabemos que as perdas são mais freqüentes do que no passado. E neste caso, investidores japoneses apresentaram pedidos volumosos por investimentos na região, conta Gomez.

A conclusão é de que parcerias entre a iniciativa privada e governos seriam vitais para investigar proativamente e mitigar os impactos potenciais de tal mudança. Será que existe capacidade sufuciente de seguro e resseguro para suportar tal aumento na tendência de aumento observada? Quem paga a conta? Os governos tem de fornecer suporte financeiro. Mas eles estão preparados? Será que o Brasil deve se importar com o que acontece no resto do mundo?

A resposta de Gomez é: Devem se importar sim, pois a capacidade de resseguro que está sendo usada aqui é a mesma que paga o sinistro no resto do mundo. Então é preciso estar atento.

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