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Empresas têm setor em comum, mas potenciais distintos

Fonte: Valor Econômico

Por Beatriz Cutait e Thais Folego | São Paulo

O sucesso do IPO da BB Seguridade, cujas ações subiram 51% na bolsa em 2013, deu maior visibilidade ao setor de seguros brasileiro, do qual também constam nomes como Porto Seguro, SulAmérica e Brasil Insurance, que estão na bolsa há mais tempo. Mas o investidor precisa ter cautela ao olhar para um segmento com empresas de modelos e focos de negócios muito diferentes e, portanto, que apresentam perspectivas também diversas.

Enquanto a BB Seguridade é uma holding que agrega sob o seu guarda-chuva seguradoras de todos os ramos (menos saúde) mais uma corretora de seguros, a Porto Seguro e a SulAmérica são puramente seguradoras com foco em automóveis e saúde, respectivamente. Já a Brasil Insurance é uma corretora de seguros "pura".
 
 
 
.A Fator Corretora iniciou a cobertura dos papéis da BB Seguridade - considerada a "top pick" do setor - e atualizou o modelo para as outras três companhias. A empresa mais novata no mercado de capitais - a BB Seguridade abriu o capital em abril de 2013 - tem recomendação "overweight" (superior à média do mercado, correspondente à compra) e preço-alvo de R$ 25,50 para dezembro, o que representa uma valorização potencial de 10,7% sobre o valor de fechamento de sexta-feira (10).

Já as units da SulAmérica e as ações da Brasil Insurance têm indicação "equal weight" (em linha com a média do mercado, ou manutenção), com preços-alvo de R$ 14,50 e R$ 19,00, o que indica potencial alta de 6,6% e 5,8%, respectivamente. Já os papéis da Porto Seguro têm a pior indicação, de "underweight" (abaixo da média do mercado, ou venda), com preço-alvo de R$ 27,50, o que aponta para uma queda de 2,2%.

Da perspectiva geral, o mercado de seguros tem ainda bastante espaço para crescer devido a sua baixa penetração na economia. O faturamento do setor equivale a 6% do PIB brasileiro, enquanto essa fatia supera os 10% em países como o Chile.

"A baixa penetração deve sustentar o crescimento dos prêmios [receita] de seguros, apoiado principalmente pelo acesso mais amplo da população a produtos financeiros, refletindo mais renda disponível, um fator-chave", diz relatório do UBS desta semana sobre o setor financeiro. A casa também destaca que a tendência de alta das taxas de juros da economia deve beneficiar as seguradoras, uma vez que aumenta a receita financeira. O UBS também tem recomendações diferentes para as ações do setor: compra para BB Seguridade e neutra para Porto e SulAmérica.

Na visão da Fator, os bons dias vividos pelas seguradoras brasileiras já não são os mesmos, com um cenário desafiador pela frente para a maioria dos segmentos. Por outro lado, o canal de distribuição bancário ("bancassurance") é visto como o "oásis" do setor, ao aliar rentabilidade com oportunidades de crescimento.

"Um corretor de seguros independente não consegue competir com o banco na distribuição dos produtos. E uma seguradora independente de banco também não consegue entrar nesse mercado. O segmento de 'bancassurance' tem toda condição de defender sua competitividade e o mercado é muito bom tanto para BB Seguridade como para Itaú e Bradesco ", afirma o analista de seguros da Fator Pedro Zabeu, responsável pelo relatório de cobertura com Marcio Maeda e Daniel Utsch.

Na visão da corretora, a BB Seguridade tem potencial para elevar os lucros em 18% ao ano até 2022, dos quais 15,5% da alta oriundos da maior penetração na base de clientes do Banco do Brasil. Atualmente, apenas 13% dos clientes do banco têm alguma apólice da holding de seguros do grupo e o objetivo é chegar mais perto do que o Bradesco tem hoje: 25%.

No segmento de seguros de automóveis, que responde por 50% do faturamento do setor, a Fator diz acreditar que o mercado já está muito perto de atingir a maturidade, sem muito espaço para uma inserção adicional em termos de seguros. Apenas uma aceleração do crescimento da frota ou um aumento maior dos preços das apólices poderia garantir a manutenção do desempenho atual, mas a perspectiva, diz a corretora, é que as vendas fracas limitem a expansão da frota e um ambiente mais competitivo impeça a subida dos preços dos seguros no curto prazo.

E essa perspectiva prejudica o cenário da Porto Seguro, com 60% do faturamento vindo de apólice de carro, apesar de ter como um dos acionistas o Itaú. Segundo Zabeu, os dados mais recentes de frota segurada no país, de 2012, indicam uma estabilidade do percentual de carros com seguro ante a frota total. "E imaginamos que isso deve continuar nos próximos anos, mas com a venda de veículos se desacelerando, se não cair, em relação aos anos anteriores. E isso resulta num menor espaço para crescer na base segurada", afirma.

Na área de saúde, na qual se destaca a SulAmérica, a Fator espera que a inflação médica persista e, como resultado, assinala que as seguradoras podem ter mais dificuldade no controle da sinistralidade, que é a relação entre receitas e pagamento de indenizações. A SulAmérica tem 70% das receitas oriundas de seguro saúde. A desaceleração da economia também tende a afetar a criação de empregos formais e, portanto, a base de beneficiários. Do lado positivo, a Fator prevê que a concorrência permita uma melhor precificação dos seguros, dado que a sinistralidade do segmento atingiu seu limite.

Por fim, o caso da Brasil Insurance pode ser analisado de duas formas. Por um lado, a Fator vê com bons olhos a estratégia de crescimento via aquisições sem comprometer a geração de caixa. Mas essa mesma tática tem riscos significativos que fazem a corretora pensar sobre a sustentabilidade do valor de perpetuidade da empresa.

A preocupação, de acordo com o analista da Fator, está vinculada ao alinhamento de interesses da Brasil Insurance com a empresa adquirida quando o período de pagamento é encerrado. A companhia adquire empresas com parte do pagamento em dinheiro, parte em ações da holding e parte em quatro anos de acordo com o desempenho da empresa adquirida.
 

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