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Um certo otimismo



Valor Econômico 

Apesar da retração das vendas em alguns nichos importantes do setor, como automóvel, grandes riscos, saúde e vida, as seguradoras exibem lucratividade e níveis de solvência sólidos. "2016 segue como um ano desafiador, mas temos o alento de que o cenário econômico parou de piorar, o que traz otimismo para 2017", diz Márcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg). A indústria de seguros registrou crescimento nominal de 6,4%, para R$ 113,9 bilhões, no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado.

O mercado deve se beneficiar de uma melhora gradual do ambiente político e econômico, com medidas saneadoras das contas públicas e investimentos privados em infraestrutura. Dois pilares importantes defendidos pela atual equipe econômica, como a reforma da Previdência e a ampliação das concessões e privatizações, também prometem impulsionar a indústria do seguro. "O setor deve se beneficiar ainda das prováveis mudanças nas regras de garantias das obras públicas e da definição de melhores práticas para a subvenção do seguro agrícola, um ramo com enorme potencial de crescimento", diz Robert Bittar, presidente da Escola Nacional de Seguros.


Segundo Marcelo Labuto, CEO da BB Seguridade, a expectativa do empresariado e do investidor com relação ao governo Temer é positiva. "Mas o desafio de fechar 2016 e entregar resultados em 2017 é desafiador, pois todas as projeções apontam para um aumento de desemprego no primeiro trimestre de 2017, o que afeta o poder de compra e de decisão do consumidor", comenta. As perspectivas para o lucro de 2016, que eram de crescimento entre 8% e 12%, foram reduzidas para 4% a 8% em razão de incidência de tributos nas operações.


Randal Zanetti, presidente do grupo Bradesco Seguros, segue otimista. "Embora a participação do mercado segurador no PIB brasileiro tenha aumentado de 1% para 6% nos últimos 15 anos, o país ainda é apenas o 44º colocado no ranking mundial de consumo per capita do produto".

Ele destaca que existem hoje mais de 150 milhões de pessoas sem plano de saúde, 120 milhões sem seguro de vida e acidentes pessoais e 180 milhões sem plano dental. Além disso, cerca de 38 milhões de automóveis circulam sem seguro, quase 60 milhões de residências não possuem apólice patrimonial e cerca de 3 milhões de empresas ainda não dispõem de nenhum tipo de proteção.

No curto prazo, porém, tudo gira em torno de duas letras: IC. Isso quer dizer índice combinado, indicador que mede a eficiência operacional de uma seguradora. O ideal é que fique abaixo de 100%. Se ficar em 100%, significa que tudo que a seguradora recebeu dos clientes foi usado para pagar custos comerciais, administrativos e indenizações. Se o acionista recebeu dividendo, veio do rendimento obtido com a aplicação das reservas e do capital no mercado financeiro. Caso a companhia tenha tido perdas com a carteira de investimento, o acionista amargou prejuízo. No Brasil essa hipótese é remota, pois praticamente a totalidade dos R$ 716 bilhões em reservas técnicas do setor (garantias para pagar indenizações) até junho está em títulos de renda fixa, remunerados pela taxa Selic, em 14,25% ao ano.

Alguns fatores foram citados como desafios para 2017. Espera-se uma queda da taxa de juros para um patamar próximo a 11%. Ou seja, o colchão para compensar a perda operacional vai diminuir. Outro sinal amarelo é o aumento de pedidos de indenizações que ocorre com a economia deprimida. Seja pelo avanço da fraude, pelo envelhecimento da frota de carros, pelo estresse que gera mais doenças e eleva o uso do seguro saúde, e também maior ocorrência de acidentes nas empresas por falhas em manutenção de equipamentos.

"Estamos preocupados pois o índice de roubo e furto de automóveis está elevadíssimo nas regiões fora do eixo Rio-São Paulo em razão da crítica situação financeira dos governos estaduais, o que acaba impactando de forma negativa o departamento de segurança pública", disse João Francisco Borges, presidente da HDI Seguros e também da Federação Nacional de Seguros Privados (FenSeg).

Borges enfatiza que o acionista quer o IC sob controle. "Para isso, a gestão está focada em obter ganho operacional, como fazemos com os núcleos Bate Pronto, de atendimento aos clientes. Temos um custo 25% menor nessas unidades e o indicador de satisfação dos cliente é alto, com 93% deles afirmando que renovariam o seguro e indicariam para amigos".

Assim, a ordem é cortar custos internos, dar ao cliente opções de produtos mais baratos, ampliar os canais de distribuição e encontrar segmentos que têm demanda aquecida. "Nosso foco está na gestão das despesas e na busca de novos produtos e segmentos", diz José Adalberto Ferrara, CEO da Tokio Marine, que tem o Tokio Auto Roubo+Rastreador, um seguro para proteger o carro e que custa a metade do seguro tradicional por não ter cobertura para colisão. "O produto ajuda os nossos corretores a manter o cliente em carteira e quando a situação do país melhorar essa parceria será lembrada, elevando nosso índice de fidelização", aposta.

Gabriel Portella, CEO da SulAmérica, afirma que momentos desafiadores têm a virtude de exigir maior criatividade, agilidade e disciplina. "Estamos nos beneficiando de melhorias operacionais em frentes prioritárias, e ampliamos nosso portfólio de produtos para aproveitar oportunidades em segmentos e mercados onde ainda víamos potencial".

O Brasil é um dos países estratégicos para as estrangeiras, que seguem investindo nas subsidiárias locais. "O Brasil foi o país que mais recebeu investimentos da Chubb, nos últimos dois anos, a despeito do momento complexo por que passa a economia. A visão do acionista é de longo prazo", afirma o CEO Antonio Trindade. A expectativa é de crescimento nas linhas em que o grupo é líder, como grandes riscos, afinidades, transportes, responsabilidade civil, linhas financeiras e programas multinacionais.

Carlos Magnarelli, CEO da Liberty Seguros, afirma que a estratégia é investir em três pilares: portfólio diversificado, atendimento diferenciado e criação de experiência internacional para funcionários. "É essencial ter lucro operacional e a gestão é determinante. Em 2015, foram mais de 3,6 mil melhorias implementadas pelos funcionários". A suíça Zurich repaginou a subsidiária local, unindo as estruturas de vida e previdência a de seguros gerais num só núcleo. "A nossa estratégia é no longo prazo e independe das articulações do momento, seguimos investindo no Brasil", diz o CEO Edson Franco.

Ser mais digital é a meta da Mongeral Aegon. O grupo espera uma retomada da economia do país no próximo ano e um crescimento de 20% nas vendas. "Seguiremos com disciplina orçamentária e na procura por eficiência, com a meta de fechar 2017 com mais de 80% das vendas com processo totalmente digital", diz o presidente Helder Molina.

No Itaú, o foco segue no direcionamento de vendas para produtos não atrelados a crédito, além da simplificação de processos, utilizando processos eletrônicos. "A ideia é estar presente em todos os canais que tenham transações bancárias para realizar ofertas de seguro e capitalização", diz o diretor de seguros do Itaú, Leon Gottlieb. As receitas com serviços e seguros do Itaú no conceito consolidado devem crescer de 4,0% a 7,0% neste ano.

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