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Produto enxuto para enfrentar a crise

Fonte: Valor Econômico
Por Guilherme Meirelles | Para o Valor, de São Paulo


Sergio Barros: "Temos um produto que cobre só roubo e furto, mas notamos comportamentos distintos dos clientes"


Aumento da criminalidade nos grandes centros urbanos, queda na taxa de juros com impacto nas margens de lucro das aplicações financeiras das seguradoras, alta no preço das peças de reposição e números da indústria automotiva apontando recuo de 2,99% no volume de emplacamentos em relação a agosto de 2016. Para se adequar a este nada animador cenário econômico, as companhias seguradoras foram obrigadas a lançar mão da criatividade no lançamento de produtos mais enxutos e de políticas austeras de gestão para manter suas carteiras na modalidade de seguro de automóveis.

Em razão do ajuste de preços nos prêmios, o volume acumulado até julho alcançou R$ 19,1 bilhões, de acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o que representa 6,5% superior a igual período de 2016. Em média, os preços das apólices subiram cerca de 10% comparados a 2016, puxados principalmente pela disparada de roubos e furtos na região metropolitana do Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Curitiba - nestas regiões, os reajustes chegaram a até 50%. "Questões ligadas à criminalidade representam entre 50% e 60% da precificação do seguro", afirma Jaime Soares, diretor do Porto Seguro Auto. Hoje, o índice de sinistralidade divulgado pela Susep está em torno de 68%, sendo que em anos anteriores ficava por volta de 61%.

Líder de mercado com cerca de cinco milhões de veículos segurados em suas três marcas (Porto Seguro, Itaú Seguros e Azul), o grupo passa por um momento atípico - queda de 2,3% no volume de prêmios da marca Porto Seguro e crescimento de 9,6% nas vendas da Itaú Seguros, que oferece produtos mais enxutos, com cobertura restrita a roubo e furto e uso de rastreador, que reduz o valor da apólice. "Mas o cliente da marca Porto Seguro continua aderindo às coberturas extras, como serviço de guincho, que está presente em 22% dos contratos", diz Soares.


Para Eduardo Dal Ri, vice-presidente de automóvel e massificados da Sul América, o momento estimula as seguradoras a rever suas estratégias. "Os números da indústria automotiva estão 40% inferiores aos de 2013, e só devem ser alcançados em 2022. Já a taxa de juros saiu de um patamar de 14% e deve se manter em torno de 7%, o que vai forçar as seguradoras a reduzir custos e buscar mais eficiência operacional na digitalização de seus serviços", afirma. O executivo admite que em razão da onda de criminalidade, a seguradora aumentou seus preços "bem acima" dos níveis históricos, chegando a recusar contratos em determinadas regiões. Para compensar a perda no volume, a Sul América lançou seguros mais básicos, caso do Auto Compacto, com franquia diferenciada (mais baixa para quem optar por oficinas conveniadas) e coberturas consideradas essenciais, como assistência 24 horas. "É um seguro transitório para o cliente que não pode renovar o seguro completo", diz.

O setor mais resiliente aos efeitos da crise foi o de veículos com valor acima de R$ 120 mil, observa Sérgio Barros, diretor de automóvel do grupo segurador BB e Mapfre. "Surfamos bem neste segmento", diz. Nas demais áreas, a seguradora tentou evitar o repasse integral das despesas no preço final por meio da implantação de novos processos operacionais, como aviso de sinistros via aplicativo (o que reduz custos em call center), produtos com duração semestral e mais flexibilidade na escolha das coberturas. "Temos um produto que cobre só roubo e furto, mas notamos comportamentos distintos dos clientes conforme a região. No Sudeste, é maior a adesão por danos a terceiros", afirma.

A escolha adequada das coberturas é fundamental para reduzir o valor da apólice, diz José Varanda, professor da Escola Nacional de Seguros. "O consumidor deve estar atento para contratar somente o que necessita. Algumas coberturas adicionais, que muitos contratam e poucos utilizam, como o carro reserva e diárias de hotel".

Com presença forte no Rio de Janeiro, a Bradesco Seguros reforçou suas políticas na retenção de sua carteira. "Fomos impactados pelo aumento da criminalidade e com isso estreitamos nosso relacionamento com oficinas e fornecedores de peças", diz Saint'Clair Pereira Lima, diretor técnico de auto/re da Bradesco Seguros. Em carros com tecnologia embarcada sofisticada, um espelho retrovisor pode custar mais de R$ 1 mil. "Investimos na digitalização dos serviços e facilitamos o parcelamento em até dez vezes e conseguimos crescer 7,2% no ano". Com uma carteira de 1,55 milhão de veículos, a seguradora reforçou junto aos clientes do banco um produto focado em carros acima de 10 anos, público que normalmente abandona o seguro em momentos de crise.

Apesar de não haver números oficiais, o setor de seguros trabalha com a estimativa de que apenas 30% da frota nacional conta com algum tipo de proteção. "Nosso público-alvo é o que não é coberto pelas grandes companhias", afirma Robson Tricarico, diretor comercial da Suhai Seguradora, empresa de segurança pessoal, que há oito anos abriu um braço na área de seguros para carros de passeio e motos. O produto oferecido cobre apenas roubo e furto (com assistência 24 Horas) e cobra prêmios 50% inferiores aos de mercado, afirma. "Temos expertise em recuperar veículos e inteligência estratégica para poder assumir riscos maiores". Segundo o diretor, a carteira da Suhai deve fechar o ano com 150 mil contratos, com predominância de motos e veículos acima de 10 anos. "Crescemos por volta de 50%. Não recusamos clientes, mesmo em áreas de alto risco".

Já o segmento de apólices coletivas tem sido reforçado pelas seguradoras. "As vendas de frotas corporativas crescem mais que o varejo. Aperfeiçoamos nossos processos para apresentar um orçamento em minutos", afirma Fábio Leme, VP técnico da HDI. Segundo Walter Pereira, diretor de linhas pessoais da Zurich, há maior seleção de riscos nos casos dos clientes corporativos.

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