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Retomada de obras pode gerar R$ 6 bi para seguradoras

Fonte: Valor Econômico
Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

José Carlos Cardoso, presidente da IRB Brasil Re: "Estamos participando da modelagem de quase todas as obras"

Apesar do cenário político incerto, o mercado de seguro e resseguro aguarda com ansiedade o deslanchar do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) do governo federal. A expectativa é que as obras possam reanimar os contratos em um segmento que vem sofrendo nos últimos anos com a crise econômica e falta de grandes projetos. O novo modelo que prevê concessões, privatizações e parceria público-privada (PPP) de aeroportos, portos, rodovias, ferrovias, energia, petróleo e gás até 2020, com mais de 110 obras, demandará investimentos estimados pelo banco Itaú em R$ 300 bilhões.

Se esse número se confirmar, pode gerar para as empresas de seguros e resseguros R$ 6 bilhões em prêmios, segundo cálculo do Insper. "Para chegar a esse número, eu repliquei a modelagem de concessão de uma rodovia com investimento previsto de R$ 7,5 bilhões, onde entre 2% a 2,5% são gastos com seguro e resseguro, em prazo de 30 anos", diz o professor Eduardo Padilha, especialista em infraestrutura. Nesses contratos, só para risco de engenharia são destinados 0,5% para garantia da obra.

Padilha alerta, no entanto, que a demora na elaboração dos estudos técnicos por parte do governo compromete não só a análise correta dos números como também o cumprimento do cronograma dos leilões. "Eles não têm equipes para analisar vários projetos ao mesmo tempo. Das 17 rodovias, quatro ou cinco conseguirão avançar até o primeiro semestre do ano que vem. O resto será muito mais pra frente", diz o professor.


Mas para a maior resseguradora do país ainda é cedo para fazer este cálculo, pois existem muitos detalhes que podem influenciar o grau de risco e prêmios que essas obras vão gerar. Cada concessão está em diferente estágio e alguns estudos chegam a demorar quase um ano para ficarem prontos. De todo modo, o IRB Brasil Re diz que a expectativa é positiva e deve movimentar o setor, pois envolve várias linhas de seguro e resseguro, que vão da vida do trabalhador a garantia do projeto, risco de engenharia, responsabilidade civil e de propriedade.

"Deve gerar nova fonte de prêmios para os dois mercados. Estamos participando da modelagem de quase todas as obras", afirma José Carlos Cardoso, presidente da empresa que fez em julho deste ano oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na bolsa e levantou R$ 8,5 bilhões com a operação. Dos RS 4,9 bilhões em prêmios que registrou em 2016, com crescimento de 15% em relação a 2015, R$ 1,4 bilhão veio da atuação do IRB no mercado externo, cujo foco é a América Latina. "Especialmente no México, Colômbia, Peru e na Argentina, onde estamos investindo para acompanhar o crescimento local e melhorar a qualidade de serviços", indica Cardoso.

Além da crise política, as eleições de 2018 também devem impactar no cronograma do PPI na opinião da Munich Re, empresa alemã de resseguros que atua no Brasil há 20 anos. "Pós eleições, deve haver retomada maior. Sempre fomos muito fortes em infraestrutura no mundo e no Brasil e pretendemos analisar e participar de todas as obras", afirma Tânia Amaral, diretora de subscrição de contratos não vida da Munich Re.

O cenário hoje, na sua opinião, é muito diferente dos projetos do passado, pois existem novos participantes como estrangeiros e pequenas e médias empresas. Saem de cena as grandes construtoras punidas pela Lava-Jato. Tania Amaral lembra que tramita no Congresso Nacional projeto de lei para ampliar a cobertura do seguro garantia para pelo menos 30% da obra. Hoje está entre 5% e 10%. "O que é muito baixo para concluir o projeto. Tem que mudar para ser viável para o mercado", defende a executiva. Nos Estados Unidos, as garantias são de 100%. A Munich Re encerrou 2016 com R$ 442 milhões em prêmios emitidos no país, 20% acima de 2015.

Líder em cessão de resseguros no mercado segurador brasileiro, com R$ 2,4 bilhões em 2016, o grupo segurador Banco do Brasil e Mapfre (BB e Mapfre) tem todas as concessões mapeadas por segmentos e equipes preparadas para participar dos leilões. "Tanto na estruturação, quanto na capacidade financeira. Contamos para isso com a Mapfre Global para gerar know how", afirma Fernando Zamboim, diretor de resseguros corporativos do BB Mapfre. "Nossa preocupação, no entanto, é com os níveis atuais de preço que estão muito baixos", diz. Ele acredita que os projetos de infraestrutura podem trazer novas oportunidades e ajudar o mercado a elevar o volume de prêmios. "Se olhar os números da Susep, o seguro de garantia está paralisado."

A Aon, que participa ativamente nos novos projetos de concessões na área de energia eólica, elétrica (geração, transmissão e distribuição), aeroportos, ferrovias, rodovias e portos, também está com apetite elevado. No segmento aeroportuário, presta serviços de consultoria e corretagem para 60% dos grandes aeroportos em concessão no país. Embora olhe com interesse para boa parte dos novos projetos, está alerta em relação à devolução de algumas concessões como a do aeroporto de Viracopos e da rodovia 054. "Isso é ruim porque há eventual possibilidade de sinistro", avalia Eduardo Takahashi, diretor comercial e de infraestrutura da Aon Brasil.

O executivo diz que a participação de investidores internacionais nos novos projetos deve ainda ampliar a quantidade e qualidade dos riscos avaliados e por consequência das apólices de seguros e resseguros. "Hoje, são avaliados questões de garantias, risco político, de terrorismo e até risco cibernético, devido as evoluções tecnológicas", indica Takahashi. Sua estimativa de crescimento dos prêmios de seguro e resseguros em 2017, para projetos de infraestrutura, é de 30% a 40%.

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