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Seguro Popular ainda é visto com ceticismo pelo mercado

Fonte: Valor Econômico
Por Guilherme Meirelles | De São Paulo

Regulamentado no ano passado pela Susep, o Seguro Popular (que permite o uso de determinadas peças não originais) ainda é visto com ceticismo pelo mercado segurador. Até o momento, apenas duas seguradoras - Tokio Marine e Azul - colocaram seus produtos na praça. O grupo japonês lidera com folga, com R$ 770.975, o que corresponde a 97% dos prêmios diretos, de acordo com dados acumulados da Susep até agosto.

A regulamentação do seguro popular veio em decorrência do apelo das seguradoras em oferecer produtos econômicos para os veículos de passeio com mais de cinco anos. A medida ganhou respaldo após a sanção da Lei 12.977, de 2014, que regulamentou os desmanches de peças em todo país, o que inibe a ação de quadrilhas organizadas de roubos de autos. Na prática, a nova legislação tem sido aplicada com mais rigor no Estado de São Paulo, mas a tendência é que o mesmo comportamento seja adotado em todos os Estados.

O próprio texto da resolução da Susep estabelece restrições para a troca de peças, que podem ser usadas, desde que intactas, ou recicladas, com a devida certificação de órgão responsável. Os itens que envolvem a segurança dos passageiros - casos de sistema de freios, suspensão, motor e cinto de segurança - não podem ser reutilizados. São permitidas peças de tapeçaria, lataria, lanternas e espelhos retrovisores, por exemplo.


Do ponto de vista operacional, o desafio das seguradoras é contar com uma boa rede de fornecedores de confiança ou criar sua própria empresa de desmanche. A Tokio Marine tem optado pela primeira solução, adquirindo peças certificadas, similares às originais. Por uma questão de escala, a seguradora prioriza veículos mais presentes na frota urbana, como Gol, Voyage, Fox, Astra, Celta, Corsa Classic, Corsa Sedan, Vectra, Uno, Palio, Fiesta, Ká, Clio e i30, além do caminhão Mercedes Sprinter e o utilitário Sprinter. A decisão da companhia em usar peças novas certificadas se deve ao risco no reaproveitamento de itens usados, principalmente em peças de lataria, nas quais até mesmo uma pequena irregularidade pode comprometer a estabilidade do veículo.

Já a Azul, do grupo Porto Seguro, optou pela criação de uma desmontadora própria, no caso a Renova Auto Peças, localizada em um amplo galpão na zona oeste de São Paulo. Para lá, são levados os veículos segurados das três seguradoras do grupo (Azul, Porto Seguro e Itaú Seguros) que tiveram perda total. No local, os veículos são desmontados de acordo com as normas da Lei de Resíduos Sólidos, com descarte de óleo e transformação em sucata das peças não aproveitáveis. Segundo Felipe Milagres, diretor da Azul Seguros, não há pressa em resultados imediatos. "Começamos na capital paulista, expandimos para o Sudeste em agosto e até o final do ano entraremos em outras capitais. Estamos prospectando desmontadoras oficiais em outros Estados. Nossa preocupação é pelo tempo de reparo. Não vale a pela enviar uma peça de São Paulo para a Bahia". Hoje, os carros que entram na Renova são provenientes dos Estados de São Paulo, Rio, Minas e Paraná, regiões que concentram a maior parte da frota segurada do grupo.

Além do aspecto logístico, as seguradoras contam com outro grande desafio: vencer a desconfiança do consumidor em utilizar peças usadas ou similares, ainda tratadas como de qualidade inferior. "Não descartamos totalmente entrar neste ramo, mas a probabilidade é baixa. As vendas estão baixas e há resistência do público em adquirir peças usadas", afirma Eduardo Dal Ri, vice-presidente de automóvel e massificados da Sul América.

Na mesma linha, está a Bradesco Seguros. "Estamos aguardando como reage o mercado", diz Saint'Clair Pereira Lima, diretor técnico de Auto/RE. Já a HDI, apesar da cautela, revela o interesse. "Está no radar, talvez no primeiro semestre de 2018", afirma Fábio Leme, VP técnico.

A única companhia com intenção de ingressar no ramo é a BB Mapfre. Segundo Sérgio Barros, diretor de automóvel, o lançamento deve ser em 2018. "Faremos campanha de marketing para explicar ao consumidor exatamente o que ele está comprando", afirma.

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