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Resseguro sente impacto da interrupção de grandes obras

Fonte: Valor Econômico

Por Luiz Sérgio Guimarães | De São Paulo

Em acelerada expansão desde o fim do monopólio estatal exercido pelo IRB, encerrado em abril de 2008, o mercado brasileiro de resseguros sofreu os efeitos da crise econômica dos últimos anos menos do que seria natural esperar, na visão do presidente da Associação Nacional das Resseguradoras (ANRe) e CEO da Austral Re, Bruno Freire. Em 2017, o setor manteve a tradição histórica de crescer na casa dos dois dígitos altos. O volume de resseguro emitido foi de R$ 10,23 bilhões, com alta de 16% em relação ao ano anterior. O lucro líquido das resseguradoras locais subiu 15%, para R$ 1,312 bilhão.

Até 2007, só uma companhia era autorizada a operar no país, o IRB. Dez anos depois, o mercado é composto, segundo registro na Susep, por 16 resseguradoras locais, 39 admitidas e 75 eventuais. No ano passado, cerca de 70% dos prêmios de resseguro foram cedidos para as companhias locais. Do total de R$ 99 bilhões de prêmios retidos em 2017, quase R$ 11 bilhões foram cedidos às resseguradoras.

Freire mantém a expectativa de que 2018 deverá ser um pouco melhor do que 2017, apesar do desempenho ainda fraco de janeiro a março. De acordo com a Terra Brasis, uma das quatro resseguradoras nacionais, ao lado do IRB Brasil RE, Austral e BTG - nos três primeiros meses deste ano, o volume de resseguro cedido (total bruto de comissão) foi de R$ 2,71 bilhões, em queda de 1,5% comparativamente aos R$ 2,75 bilhões obtidos no mesmo período de 2017.

Em compensação, o resseguro emitido expandiu-se no trimestre 5,6%, para R$ 2,5 bilhões. E caiu a sinistralidade, de 47% para 41%. Cerca de 71% (o equivalente a R$ 1,92 bilhões) do volume registrado foi colocado em resseguradoras locais, com expansão de 3,9% sobre o mesmo período de 2017.

O impacto sofrido pela interrupção das grandes obras foi significativo, mas os dados de crescimento compravam a resiliência das resseguradoras, salienta o presidente do IRB Brasil RE, José Carlos Cardoso. "Os diversos problemas sofridos pelas empresas do setor de engenharia agravaram ainda mais os investimentos, afetando esse mercado que já chegou a ser de R$ 630 milhões em prêmios emitidos em 2012 e fechou 2017 em apenas R$ 282 milhões", diz.

Maior resseguradora brasileira, o IRB já detecta sinais de melhoria. "Um setor que já responde positivamente é o óleo e gás, onde já tivemos investimentos se materializando, principalmente no que diz respeito à exploração de petróleo. O mercado de vida também vem apresentando um crescimento importante", diz Cardoso.

Para compensar a perda de receita derivada da recessão - que abalou principalmente os ramos de risco de engenharia, transporte e óleo e gás -, as resseguradoras deslocaram o foco dos negócios para duas frentes: os setores poucos explorados de vidas, agronegócios e aviação e a tomada de riscos externos. "O mercado explorou novos nichos e segmentos no exterior, compensando o impacto negativo da crise", diz o diretor financeiro e de operações da Swiss Re, Frederico Knapp.

Do total da arrecadação do ano passado, de R$ 10,23 bilhões, R$ 2,26 bilhões vieram de fora. Essa saída externa para ampliar a lucratividade persiste em 2018. O volume de riscos vindos das praças globais cresceu nas resseguradoras locais de R$ 522 milhões no primeiro trimestre do ano passado para R$ 584 milhões agora, evolução de 11,8%.

Para enfrentar a crise, as seguradoras intensificaram a cobertura de proteção de suas carteiras de vida e automóvel, por exemplo. Outro ramo cuja presença foi ampliada foi de seguro-garantia. Entre 70% e 80% das operações precisam contratar apólice de resseguro.

O mercado vem se adaptando à mudança de regulamentação, concluída em dezembro, que desobrigou a contratação de 40% do valor do prêmio em uma resseguradora local. Para o diretor da corretora Bowring Marsh, Paul Conolly, a nova regra torna o mercado mais transparente. "O impacto não foi grande. A mudança está sendo absorvida com tranquilidade", comenta ele.

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