BB Seguridade deve crescer mais alinhada a setor, diz Rothe após salto
“É difícil crescer acima de 20% [no lucro] todo ano”, disse presidente da empresa, que teve alta anual de 35% no lucro ajustado do 4º tri e de 21% no ano
Apesar de o próprio presidente da BB Seguridade, Bernardo Rothe, classificar como conservador o novo 'guidance' da companhia para 2020, o executivo ressaltou, em entrevista a jornalistas sobre o resultado do quarto trimestre, que as projeções refletem uma tendência de crescimento do grupo mais alinhado com os números tradicionais da indústria.
Segundo Rothe, “é difícil crescer acima de 20% [no lucro] todo ano”.
A estimativa para 2020 estabelece como meta um crescimento de 5% a 10% nos prêmios emitidos pela Brasilseg, sem considerar o DPVAT. Também considera um aumento de 10% a 13% para as reservas de planos de previdência da Brasilprev e uma expansão de 7% a 13% no resultado operacional não decorrente de juros ajustado.
No ano passado, os números foram maiores do que os tetos dos intervalos do guidance de 2020. Prêmios emitidos alcançaram alta de 13,9% em 2019, as reservas de previdência subiram 13,2% e o resultado operacional teve elevação de 13,3%. O lucro líquido recorrente do braço de seguros, previdência e capitalização do Banco do Brasil alcançou R$ 4,3 bilhões em 2019, um avanço de 21,3% em relação a 2018. Se forem considerados os eventos não recorrentes, como a venda de participação no IRB por R$ 2,3 bilhões, o lucro líquido total da BB Seguridade alcançou o maior valor da história, de R$ 6,7 bilhões no ano passado.
Segundo Rothe, “dois dígitos é um bom crescimento” para o ano. “A gente tende a ter um guidance mais conservador e a intenção é entregar o guidance e surpreender mais positivamente do que negativamente.”
O executivo explicou ainda que as projeções podem ser revistas ao longo do ano conforme os resultados. A expectativa de um desempenho mais alinhado ao mercado reflete, em grande parte, a perspectiva de uma reversão de fatores pontuais positivos do ano passado. A sinistralidade da área de seguros, que terminou 2019 em 23,8% ante 32,9% no quarto trimestre de 2018, por exemplo, tende a se manter estável em lugar de aprofundar a queda.
“Tem partes da sinistralidade que podem ser piores e partes que podem ser melhores. No ano passado começamos no rural com sinistralidade puxada e o índice se recuperou ao longo do ano”, disse.
“Neste ano, pode haver um aumento de sinistralidade no residencial por conta das chuvas que estão acontecendo no país.”
Em 2020, o grupo também não planeja fazer desinvestimentos, como o realizado na resseguradora IRB em 2019. “Este ano não deve ter nada de extraordinário. Não temos outro IRB para vender neste ano”, apontou Rothe. “Para frente, até diria que sou mais comprador que vendedor. Não estamos olhando nada por enquanto, mas estamos de olho em oportunidades de negócio que complementem, com olho em inovação.”
Outro fator que não deve se repetir em 2020 é o impulso ao resultado financeiro devido ao fechamento da curva de juros mais longa, como ocorrido no ano passado. “A redução da Selic não teve um impacto tão grande em 2019 por conta da curva de juros que se comprimiu bastante e gerou ganhos” nas aplicações de reservas técnicas.
Além disso, o descasamento entre o IGP-M, que corrige os benefícios, e o IPCA, que remunera os ativos, ajudou positivamente a linha no início e no fim do ano passado, afirmou o presidente da BB Seguridade. “A questão do descasamento temporal entre IGP-M e IPCA não deve ocorrer neste ano”, considerou.
Outro fator que impactou positivamente o resultado financeiro da BB Seguridade em 2019 foi a devolução de capital aos acionistas. “Do ponto de vista do acionista é a melhor decisão: por que vou manter um caixa alto rendendo Selic a 4,5% se o acionista pode ter outros investimentos com rendimento melhor? Tivemos um ''dividend yield'' de 14,9%, um dos maiores, senão o maior do mercado.”
Em teleconferência com analistas, Rothe reforçou que vários fatores macroeconômicos e de mercado que ajudaram a impulsionar o lucro líquido acima do guidance em 2019 não devem se repetir neste ano.
“Nós, como todo o mercado, tínhamos previsão de Selic no fim do ano bastante diferente e ninguém esperava uma compressão de curva de juros tão forte quanto a que ocorreu em 2019”, exemplificou o executivo ao citar uma das variáveis não computadas nas projeções de início de ano.
Conforme Rafael Sperendio, superintendente-executivo de finanças e relações com investidores da BB Seguridade, se forem somados os impactos de todos os fatores que não devem se repetir, “é como se começássemos o ano de 2020 devendo R$ 434 milhões em lucro líquido”.
O executivo listou, entre as variáveis, o desinvestimento completo no IRB, que contribuiu com R$ 119 milhões para o lucro líquido da BB Seguridade em 2019, repasse que não deve mais ocorrer a partir deste ano. Além disso, “a gente espera uma taxa de juros mais baixa e é difícil que tenhamos um mesmo volume de ganhos de marcação a mercado como em 2019.”
De acordo com Rothe, em 2020 o principal foco da companhia será no desempenho operacional. “Queremos melhorar a experiência do cliente, do vendedor e o NPS [medida de lealdade e satisfação do cliente] das empresas do grupo BB Seguridade como um todo”, disse o presidente da companhia.
Entre as áreas prioritárias, o executivo-chefe cita vida, rural, residencial e os ramos empresariais. “No agro, estamos olhando novos canais de distribuição, seguro de áreas não financiadas e estamos preparados para segurar o Pronaf, de alguma forma, substituindo o Proagro”, afirmou.
Questionado sobre o guidance de crescimento de reservas de previdência, em um ano no qual o retorno com CDI tende a permanecer muito baixo, Sperendio explicou que as projeções incluem aumento de arrecadação, mas também um maior nível de alocação em ativos de maior risco. “Nossa exposição à renda variável apesar de pequena mais que dobrou nos últimos 12 meses e, gradualmente, estamos fazendo essa migração, que deve contribuir para um crescimento de reserva acima do CDI.”
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